Análise para que Análise para quem (1)

Análise para quê? Análise para quem?

É comum que alguém que nunca tenha passado por um processo de psicoterapia se pergunte qual o sentido de expor sua vida pessoal e compartilhar suas questões mais íntimas com um desconhecido. É comum também a ideia de que só quem busca um psicoterapeuta é “maluco” e, portanto, se você não se considera “maluco”, a terapia, naturalmente, passa a não ser uma opção para você. Igualmente existe a ideia de que análise é para aqueles que estão atravessando um momento de desequilíbrio emocional, mas assumir esta condição costuma nos colocar em um lugar de vulnerabilidade, onde a maioria das pessoas não gosta de estar, o que se torna um argumento para afastar o indivíduo da decisão de iniciar um processo de análise.

Estes são apenas alguns argumentos que costumam desencorajar as pessoas a iniciar o processo terapêutico. Mas, se você continuar aqui comigo, pode me dar a chance de trazer outros argumentos para defender os benefícios de buscar um profissional qualificado para acompanhar um outro ser humano em seu processo de desenvolvimento psicológico.

Para começar, existem diversas abordagens na Psicologia, cada qual com sua compreensão e métodos de acompanhar o analisando em sua jornada individual. Minha clínica é baseada na Psicologia Analítica e nas teorias desenvolvidas pelo médico psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung.

Em linhas gerais, para a Psicologia Analítica, o sistema psíquico é composto por consciência e inconsciente, e é um sistema autorregulador, ou seja, está sempre buscando equilíbrio e harmonia. Nós, seres humanos, vivemos o tempo todo nesses dois mundos (o da consciência – do material – e o do inconsciente – do imaterial), sendo que o inconsciente é dotado de autonomia, isto é, por mais que a pessoa queira, ela não é capaz, racionalmente, de controlar o fluxo dos conteúdos inconscientes que afetam sua vida. A tensão entre estas duas realidades provocam conflitos e estes conflitos geram sofrimentos. Isso é absolutamente normal, acontece com todo mundo! Todos temos dúvidas, apreensões, tristezas, angústias… dê o nome que quiser. Estes são os efeitos desta “discordância” entre algo na consciência que não é totalmente alinhado a algo inconsciente.

Quer um exemplo simples? Imagine que você tem uma diferença com alguém que importa muito na sua vida e precisa dizer algo relevante a esta pessoa, mas sabe que, se disser, vai criar um forte atrito. Você, em um primeiro momento, escolhe se calar, mas em um segundo momento, quando o tema vem à tona e se inicia uma discussão, você, de repente, se percebe estourando e dizendo palavras duras e, depois, se arrepende por ter sido capaz de falar tudo aquilo. Ou imagine que você escolhe se calar, mas em algum momento comete uma gafe, faz um ato falho, ou seja, inadvertidamente diz ou faz algo que não queria. Ou ainda: você escolhe se calar e dias depois cai de cama doente sem motivo orgânico aparente algum. Todos estes são exemplos de como o inconsciente, que é autônomo, encontra formas de nos informar que é preciso equilibrar as situações de nossas vidas quando tomamos atitudes que julgamos serem as melhores, mas nem sempre são. Nestes casos, na maioria das vezes, experimentamos algum grau de sofrimento, que pode ser pontual ou se repetir como um padrão, perpetuando o mal-estar.

No processo de análise, faz parte da jornada buscar compreender o que o inconsciente está tentando demonstrar por meio de sua linguagem, que é simbólica. A ideia não é controlar nem domar o que nos incomoda, mas acolher e utilizar o que surgir como uma bússola para o trabalho. Por isso que, na terapia junguiana, além dos conteúdos que o analisando traz verbalmente na conversa, trabalhamos com as expressões criativas que ele também traz, como imagens (desenhos, fotos, filmes), músicas, fantasias e sonhos. Estes conteúdos podem conter símbolos que permitem à consciência elaborar ativamente as mensagens do inconsciente, em vez de apenas fazer o indivíduo sofrer com seus efeitos indesejáveis. A ansiedade, o burnout, a depressão e outros transtornos que afetam nosso comportamento não surgem do nada; são fruto de conflitos acumulados internamente e, para lidarmos com eles, precisamos fazer um mergulho em nós e investigar.

Quem decide iniciar um processo de análise, portanto, não necessariamente é alguém que tem algum diagnóstico de transtorno mental. Pode até ter e é importante e necessário que, se tenha, procure um profissional capacitado para acompanhá-lo e ampliar sua qualidade de vida. O importante, em qualquer situação, para começar o processo terapêutico é estar aberto à transformação pessoal, que pode acontecer em um espaço seguro, onde é possível despir-se da armadura que limita o desenvolvimento e onde não há certo ou errado, mas inúmeras possibilidades de seguir em direção a quem se é, verdadeiramente.

E então, análise é para você?

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